técnica: bastão oleoso s/ tela, grandes formatos, fotos Jaime Acioli

FAZER, MODO INFINITIVO
Texto de Alex Hamburger sobre a exposição no Centro de Artes UFF em 2018

"Uma linha ativa em uma caminhada, movendo-se livremente sem meta. Um caminhar pelo prazer de caminhar. O agente de mobilidade é o ponto, mudando a sua posição para a frente". (Paul Klee)

Em “Fazer, modo infinitivo”, sua segunda exposição solo, Elaine Pauvolid apresenta uma série de pinturas com bastão oleoso sobre tela, bem como uma instalação com monitores tipo tablet, através dos quais se pode acompanhar todo o processo de gestação das telas, praticamente transferindo o seu atelier para o espaço expositivo. Além dos vídeos como testemunhas do seu making of, ela ainda reproduz no espaço da galeria a sua mesa de trabalho, deixando claro que o objeto da sua proposta não é somente a simples exibição das telas, mas a exposição do próprio fazer em seu modo infinitivo.
Em seu seminal livro “Pedagogical Sketchbook” (Livro de esboços pedagógicos), pretendido como a base para o curso em teoria de design na famosa Escola de Arte Bauhaus, na Alemanha, Paul Klee  observa que a partir do simples fenômeno do entrelaçamento de linhas, seu trabalho leva a compreensão de planos definidos de estrutura, dimensão, equilíbrio e movimento. Nele, o objeto natural não é meramente representado bidimensionalmente, ele se torna espacial, relacionado a conceitos espaciais físicos e intelectuais. Na primeira parte do livro, “Linha proporcional e estrutura”, Klee introduz a transformação do ponto estático em dinâmica linear. A linha, sendo uma progressão sucessiva de pontos, caminha, circunscreve, cria passivo em branco e planos ativamente preenchidos, gradualmente surgindo como medida de toda proporção estrutural da obra, condensada na declaração lacônica “puramente repetitiva, e portanto estrutural”, em que explica em cinco palavras a natureza da estrutura vertical como acumulação repetitiva de unidades semelhantes. Na segunda parte do “Sketchbbook”, que lida com “Dimensão e Equilíbrio”, lê-se que o objeto apresentado pela linha está relacionado ao poder subjetivo do olho humano. “O homem usa a sua habilidade para se mover livremente no espaço para criar para si aventuras ópticas”.
De fato, nesta exposição, as linhas convidam o espectador a perceber na obra mais do que certos detalhes da sua evolução formal, onde o fazer gestual acaba se sobrepondo a eventuais expectativas estetizantes. Sim, porque antes de se concluir, o que se percebe nesse percurso, é que ele deixa um vestígio, um rastro ou uma trilha que pode ser vivamente seguida, algo que testemunha uma passagem, que abriga e revela uma presença passada que continua a manifestar-se. Assim, o rastro (a linha, o traço), o meio primordial pelo qual o gesto pode ser integrado a um regime de permanência, aqui se estabelece como pintura possível.

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